14 de Novembro, 2022

Alimentação e depressão: estamos o que comemos?

A quantidade de informação sobre alimentação e depressão pode levar-nos a pensar que
“agora” é moda falar de “comida saudável” e “saúde mental”. A verdade, é que é bem
mais que uma moda. Percebermos – e atuarmos – na relação entre alimentação e
depressão não só é importante como urgente.

  1. A alimentação influencia profundamente a saúde mental.
    O sistema nervoso central – onde está o cérebro – precisa de componentes da
    alimentação para funcionar. Façamos um paralelismo com o nosso carro:
    → O nosso carro precisa de peças que vêm de uma fábrica. O sistema nervoso central
    também e algumas delas vêm obrigatoriamente da alimentação – como o ómega-3 dos
    peixes gordos e das sementes!
    → O nosso carro tem um sistema de transmissão essencial ao seu funcionamento. O
    nosso sistema nervoso central também tem um sistema de transmissão do qual não pode
    prescindir. E mais uma vez de onde vêm alguns desses componentes? Da alimentação!
    Constituintes de proteínas, vitaminas, minerais e determinadas gorduras são
    particularmente essenciais para o sistema de transmissão cerebral.
    → O nosso carro precisa de um determinado tipo de combustível. O nosso cérebro
    também! E mais uma vez a alimentação contribui para esse combustível.
    Tal como num carro, devemos dar ao nosso corpo os ingredientes indispensáveis ao
    seu correto funcionamento.
  2. A nossa alimentação está desequilibrada.
    Podemos resumir a alimentação dos portugueses com uma balança em desequilíbrio em
    que o baixo consumo de legumes, leguminosas e frutas é quase catapultado pelo
    consumo excessivo de carne, refrigerantes e bebidas açucaradas (as de fruta também
    contam sim!), sal e fontes de gordura. Mas Portugal não é o único nesta tendência.
    Desequilíbrios alimentares semelhantes têm sido descritos em todo o mundo.
  3. A alimentação desequilibrada parece ser um fator de risco de depressão.
    A depressão é uma perturbação mental complexa, que vai muito para além de um estado
    de tristeza profundo. A depressão é altamente incapacitante e tem um impacto profundo
    na saúde, longevidade, a nível económico e social. A percentagem de pessoas com
    depressão tem vindo a aumentar ao longo dos anos pelo que é essencial travarmos esta tendência e atuarmos naqueles fatores de risco que conseguimos. De facto, sabe-se que hábitos alimentares ricos em alimentos processados (olá chouriços, fiambres, salsichas!), fritos, doces, cereais muitos brancos e refrigerantes podem aumentar o risco de vir a ter depressão no futuro. Mas pode haver solução!
  1. A alimentação adequada parece proteger do desenvolvimento de depressão
    Parece que podemos usar a alimentação como nosso aliado na prevenção de
    depressão. Pessoas que aderem à alimentação mediterrânica – que privilegia o consumo
    de peixe, leguminosas, legumes, frutas, frutos secos, cereais pouco refinados, o uso
    de azeite como única gordura e métodos de confeção simples – apresentam menos
    risco de desenvolver depressão que aquelas que com uma alimentação desequilibrada.
  2. A alimentação adequada pode aumentar a eficácia dos antidepressivos.
    Embora a alimentação equilibrada possa prevenir o desenvolvimento de depressão,
    não parece substituir o potencial terapêutico dos antidepressivos, por si. Mas não é
    caso para desesperos. Parece que uma alimentação adequada pode potenciar o efeito
    do tratamento, diminuindo os sintomas depressivos em indivíduos com depressão.
    É importante referir que, na depressão, a motivação para preparar refeições,
    principalmente adequadas, pode estar diminuída. Neste caso, o trabalho conjunto com
    nutricionista e psicólogo/a é de especial importância para desenvolver ferramentas
    necessárias para pôr uma alimentação adequada em prática e melhorar a sua saúde mental.
  3. Alimentação adequada é saúde.
    Alimentação adequada é aquela que é equilibrada, variada e adaptada aos estilos e
    fase de vida de cada um. Alimentação adequada é aquela que potencia a nossa saúde,
    deve ser avaliada junto do nutricionista, e pode (e vai) mudar ao longo da vida.
    A alimentação faz parte do que somos: da nossa identidade cultural, social e biológica. E
    também faz parte do nosso bem-estar, da forma que nos sentimos e estamos.
    Voltando ao carro: se não pomos gasolina num carro a gasóleo porque havemos de dar
    uma alimentação desequilibrada ao nosso corpo? Será que temos o mesmo cuidado com
    o nosso corpo que temos com o nosso carro?

Mª Inês Delgado (2200N)

Para ir mais além:
https://ian-af.up.pt/sites/default/files/IAN-AF%20Relat%C3%B3rio%20Resultados_0.pdf
https://www.thelancet.com/article/S0140-6736(19)30041-8/fulltext
https://ajp.psychiatryonline.org/doi/10.1176/appi.ajp.2009.09121746
https://www.mdpi.com/2072-6643/14/7/1398

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