30 de Maio, 2023

O que é o comportamento alimentar?

Trata-se de não separar o alimento do ato de se alimentar. O ato de se alimentar engloba uma série de questões emocionais que têm vindo a ser ignoradas ao longo dos tempos.

Se a informação do que comer e quando comer fosse a solução nós não teríamos uma população que cada vez mais aumenta em termos de obesidade e suas consequências a médio/longo prazo. Então estes números de obesidade e de indivíduos que têm tido uma série de outras questões metabólicas provenientes desse ganho de peso ou de uma vida sedentária, se, apenas a intervenção com um papel diga a esse indivíduo o que ele pode ou não comer, quanto ele deve ou não comer fosse a solução então nós teríamos a maior parte dos indivíduos com um estilo de vida mais saudável e com uma alimentação mais equilibrada.

A verdade é que saber o que se deve comer não é meio caminho andado.

Existe uma necessidade muito grande de capacitar o indivíduo a fazer melhores escolhas, a entender a necessidade de um melhor estilo de vida, a ajudar a encontrar soluções para que esse estilo de vida possa se estabelecer e para isso é necessário uma série de ferramentas que vão além de ferramentas de cálculos nutricionais. É necessário que o nutricionista esteja habilitado em termos de inteligência emocional e que seja capaz de praticar uma comunicação e escuta efetiva, a saber como estipular metas e a forma como essas metas vão ou não funcionar. É necessário inclusive que consiga de certa forma entender o estilo comportamental daquele indivíduo para que ele possa utilizar as ferramentas adequadas, e isto é Individualização. Individualização é considerar o individuo, é conhecê-lo profundamente – ao ponto de conseguir transformar as suas fraquezas em forças.

Agora desmistificando a questão dicotómica do que é a nutrição comportamental.

A nutrição é uma só e o comportamento está presente em todo e qualquer ato no indivíduo.

Cada vez mais está clara a necessidade de o nutricionista ter um olhar diferente para o indivíduo – nutrição comportamental ou comportamento alimentar – ele não é um olhar, ele é uma abordagem, mas o olhar enquanto profissional, esse sim precisa mudar, precisa ser diferente.

Eu referi acima apenas o exemplo da obesidade, do aumento dos indivíduos com obesidade, da população que cada vez se alimenta pior e não melhor, mesmo com tanto nutricionismo nas redes sociais. Mas eu poderia citar aqui também o quanto a alimentação é utilizada como uma ferramenta para atingir um objetivo estético e como isso frequentemente degenera para elevados níveis de disfunção no comportamento alimentar (de que nem atletas estão imunes). Artigos científicos muito recentes mostram que a prevalência de transtornos alimentares em atletas é ainda maior do que na população em geral. Ela é ainda maior em desportos em que a estética corporal está mais em evidência, como a dança e a natação.

O olhar sobre a nutrição precisa mudar. A nutrição como ciência, uma ciência que promove saúde e saúde não significa um corpo esteticamente adequado aos padrões, saúde significa um bem-estar físico, mental e emocional. Cabe-lhe na prática compensar também os estragos de quem busca chegar à moda estética dominante e acaba por se desequilibrar e até desnortear em termos alimentares.

Nutricionista na Clínica Medicina Integrativa Dr. Nuno Pacheco

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